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Homeschooling legalizado? Entenda os projetos de lei em tramitação no Brasil

  • jun 29, 2025
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A educação domiciliar, conhecida como homeschooling, é um tema que mobiliza debates jurídicos, políticos e pedagógicos no Brasil. Para gestores de escolas privadas, compreender o cenário legal e os projetos em tramitação é fundamental para o planejamento institucional e a relação com famílias e órgãos reguladores. Este post traz um panorama completo, com base em dados reais, decisões do STF, legislação vigente e projetos de lei em discussão.


Situação atual: o homeschooling é legalizado no Brasil?

Não. Atualmente, o homeschooling não é reconhecido como modalidade legal de ensino no Brasil. A obrigatoriedade de matrícula e frequência em instituição regular está prevista:

  • No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº 8.069/1990)
  • Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996)

Decisão do STF

Em setembro de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que, sem lei federal específica, os pais não têm direito de retirar os filhos da escola para educá-los exclusivamente em casa.

O entendimento majoritário foi de que:

  • A educação é dever compartilhado entre Estado e família
  • A frequência escolar é necessária para garantir socialização e diversidade de experiências

Em 2025, o STF reafirmou que apenas o Congresso Nacional pode regulamentar o ensino domiciliar. Leis estaduais, municipais ou distritais que autorizem o homeschooling são inconstitucionais, pois invadem a competência privativa da União.

“A norma distrital contraria entendimento firmado pelo Plenário da Corte, que condiciona a validade do ensino domiciliar à edição de legislação federal específica.” — Ministro Flávio Dino, STF


Projetos de lei em tramitação

Apesar da vedação atual, há projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional para regulamentar o homeschooling.

Principais propostas

1. PLP 118/2025 (Partido NOVO)

Apresentado em maio de 2025, busca permitir a educação domiciliar na educação básica, autorizando sua regulamentação pelos estados e Distrito Federal, desde que respeitados:

  • Princípios constitucionais
  • Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

Exige:

  • Ensino para alunos de 4 a 17 anos
  • Compartilhamento de responsabilidade entre família e poder público
  • Cumprimento da BNCC
  • Avaliação e fiscalização pelo poder público
  • Promoção da integração social do aluno

2. PL 1.338/2022 e substitutivos

Aprovado na Câmara dos Deputados em 2022, aguarda análise no Senado Federal.

Principais pontos:

  • Permite homeschooling para a educação básica (pré-escola, fundamental e médio)
  • Exige matrícula do estudante em escola credenciada, que supervisionará o processo
  • Pelo menos um dos pais ou responsáveis deve ter ensino superior ou técnico reconhecido
  • Apresentação de certidões criminais negativas
  • Relatórios periódicos e avaliações anuais obrigatórias
  • Garantia de socialização e desenvolvimento pleno do estudante

3. Projetos anteriores

Em 2019, o governo federal enviou projeto de lei ao Congresso para regulamentar a educação domiciliar, propondo:

  • Alteração do ECA e da LDB
  • Inclusão de requisitos mínimos
  • Fiscalização obrigatória

Exigências e regras propostas

As propostas em tramitação estabelecem critérios rigorosos para adesão ao homeschooling:

  • Matrícula obrigatória em escola credenciada
    A instituição supervisiona o desenvolvimento, aplica avaliações e recebe relatórios periódicos.
  • Requisitos para os responsáveis
    Pelo menos um dos pais deve ter ensino superior ou estar cursando, com prazo de transição para adequação.
  • Avaliação e socialização
    O aluno deve ser avaliado anualmente e participar de atividades que promovam integração social.
  • Relatórios e fiscalização
    Relatórios bimestrais ou trimestrais devem ser enviados à escola. Há previsão de encontros presenciais para acompanhamento.
  • Proibição para pais condenados
    Pais condenados por crimes hediondos, sexuais ou previstos no ECA ficam impedidos de aderir à modalidade.

Posição do STF: casos recentes

  • 2018: STF decide que o homeschooling só pode ser regulamentado por lei federal, não sendo permitido com base na legislação atual.
  • 2025: STF mantém a inconstitucionalidade de leis estaduais e distritais que tentaram instituir a educação domiciliar, reforçando a necessidade de legislação federal.
  • Recurso Extraordinário 1492951: O STF confirmou que a competência para legislar sobre diretrizes e bases da educação é exclusiva da União, invalidando normas locais sobre o tema.

Impactos para escolas privadas

  • Obrigatoriedade de matrícula
    Mesmo com homeschooling regulamentado, os projetos exigem matrícula em escola credenciada, que terá papel de supervisão, avaliação e emissão de relatórios.
  • Novas demandas administrativas
    Escolas privadas poderão ser procuradas por famílias interessadas em homeschooling e devem estruturar processos de acompanhamento, avaliação e interação com pais-educadores.
  • Fiscalização e responsabilidade
    As escolas serão responsáveis por garantir o cumprimento da BNCC, da avaliação do desenvolvimento e da socialização dos alunos.
  • Riscos jurídicos
    Sem lei federal vigente, escolas que aceitarem alunos exclusivamente em homeschooling podem incorrer em irregularidades, inclusive quanto ao censo escolar e à emissão de documentos oficiais.

Dados atuais

  • Crescimento da prática
    Em 2018, estimava-se cerca de 7,5 mil famílias praticando homeschooling, número que aumentou cerca de 20 vezes desde 2011.
  • Taxa de crescimento
    A prática cresce a uma taxa anual de 55%, mas ainda permanece minoritária diante do universo de alunos brasileiros.
  • Posição do MEC e do governo federal
    O governo Lula é contrário ao homeschooling, e o Ministério da Educação tem se posicionado de forma crítica à regulamentação da modalidade.

Conclusão

No Brasil, o homeschooling ainda não é legalizado. A prática depende da aprovação de uma lei federal específica, conforme reiterado pelo STF.

Projetos de lei avançam no Congresso, mas até sua aprovação e sanção, permanece obrigatória a matrícula e frequência em instituição regular para todas as escolas, públicas e privadas.

Gestores de escolas privadas devem:

  • Acompanhar atentamente a tramitação dos projetos
  • Preparar-se para possíveis mudanças
  • Estruturar processos de supervisão e avaliação, caso a modalidade seja regulamentada

Até lá, é fundamental manter o rigor no cumprimento da legislação vigente, para evitar riscos jurídicos e garantir a qualidade da educação oferecida.

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